1.7.18

Robin Hardy: The Wicker Man (1973)

Foi-me apresentado como "um filme de terror ao nível do Shining do Kubrick". Encarei-o como comédia e não foi de propósito, foi tudo em mim que eu não controlo. Isto gerou discussões intermináveis, tendo a questão sido por fim arrumada em "assuntos que não queres puxar quando um jantar está a correr bem" slash "temas para animar noites de natal aborrecidas".

Gosto mais ainda de deixá-lo sem classificação, propositamente desarrumado e sem irmãozinhos. O "Wicker Man" é um filme que se percebe desde o primeiro momento ter sido desejado, nutrido, acarinhado, que alguém se deu ao trabalho e fez um trabalho bom, e isso predispõe uma pessoa a tratá-lo bem, a gostar dele.  

Penso que o dilema terror vs comédia pode ocorrer porque nenhuma coisa pagã me suscita temor ou desconfiança. Zero. As coisas pagãs que passaram por mim e ficaram na minha vida - a árvore de Natal, o dia da espiga, Maio e as giestas, aproveitar os santos populares para celebrar o início do Verão, aproveitar o Natal para celebrar o solstício de Inverno - são todas bonitas e boas.

Já quem desconfie do paganismo é mais "ai coisas pagãs, que medo", "um pentagrama - mata! mata!", "ai hippies", "ai mulheres a dançar nuas na floresta com flores na cabeça", "ai o demónio", "ai a minha alma está perdida". E isto tudo somado dá terror.

Pronto: existe puro terror mesmo mesmo no fim. Mas aí a atmosfera do filme está toda feita e já produziu em mim o efeito de me divertir, essencialmente, de me comover (não sublinho demais que "Wicker Man" é um estranho filme inesquecível que facilmente se torna um favorito) e não me leva de todo para os caminhos do terror.

Quanto a pessoas adultas vestidas de animais (também aparecem no Shining do Kubrick), a minha grande referência é Rémi Gaillard.

Enfim, o "Wicker Man" é um filme ao longo do qual podemos adormecer, até pela banda sonora tão tão agradável, mas merece a nossa atenção. Eu diria: ver uma vez sem adormecer, talvez até convidar amigos porque é óptimo filme para justificar uma pequena festa, e depois tomar a liberdade de ir passando pelas brasas nos visionamentos posteriores.

* 4 caminhas *

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