3.3.16

Sokurov: Mãe e Filho (1997)

Alguma estranheza inicial a impedir-me de entrar no filme, seguida de uma empatia tão profunda que deixei de conseguir explicar por que é que gosto do "Mãe e Filho" sem que a voz comece a tremer-me. O teclado não treme, mas na mesma emudeço.

Não há nada mais íntimo que aquilo que ali está e assim se mostra, há? Não há mais nenhum filme... bom, o "Viagem a Tóquio" do Ozu, talvez, a cena do relógio. Talvez haja mais um ou mais dez filmes e talvez eu não consiga exprimir-me. Não vi outro filme tão íntimo sobre algo existencialmente tão relevante. E aquela intimidade toda, aquela proximidade e aquela solidão, que são totais e absolutas, são também pele e sangue, e nunca conheceremos nada numa escala tão maravilhosa e devastadora.

"Mãe e Filho" não é um filme sobre a morte ou a separação ou a doença ou qualquer imperfeição da vida. Há uma borboleta. E há uma sequência em que o filho dá uma grande volta e se ouve o som do vento, das árvores e do mar. Lembro-me desses sons como de diálogos noutros filmes, não consigo esquecê-los, fazem-me voltar: não são música, não são voz, e chamam-me de regresso ao "Mãe e Filho" como pessoas me chamariam. 

Já o vi no cinema, em cafés de livrarias e em casa, em sessões estranhíssimas de "vou só ver um bocadinho do início", com o rabo na pontinha do sofá, e depois não consigo parar. 

Nunca adormeci com o "Mãe e Filho" mas acredito que quando acontecer só poderei ter sonhos bons ou dormir como uma pedra.

* 5 caminhas *

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